sexta-feira, novembro 03, 2006

Francisco Marques

Do Diário de Aveiro:
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Faleceu, ontem, em Ílhavo, o Capitão Francisco Marques, aos 76 anos de idade, vítima de doença prolongada. Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, fala de momento de «profundo pesar», definindo o Capitão Francisco Marques como um homem «que dedicou uma boa parte da sua vida a preservar e a multiplicar a história desta terra, especialmente a ligada à pesca do bacalhau», um homem, uma vida e uma obra que afirmou ser «impossível esquecer».
Depois da homenagem feita em 2001, com a atribuição da medalha de ouro do concelho e a atribuição, em Agosto de 2002, da sala principal do Museu Marítimo com o seu nome (Sala Faina Maior/Sala Capitão Francisco Marques), a Câmara de Ílhavo decidiu perpetuar o nome do «Capitão» numa rua, praça ou outro espaço público.
Francisco Correia Marques nasceu em Ílhavo em Dezembro de 1930, sendo neto de um arrais e filho dum capitão da marinha de pesca. Após os estudos do liceu de 1941 a 1947, frequenta o curso de pilotagem que termina em 1949 altura em que faz a sua primeira viagem como Piloto do arrastão S. Gonçalinho em duas campanhas.
Foi Imediato do lugre c/motor Adélia Maria, e em 1954 é já Capitão desse navio, seguindo-se o navio Cap. José Vilarinho e São Ruy.
De 1965 a 1972 trabalha nos secadoros da Parceria Geral de Pescarias na Azinheira Velha, Barreiro, onde fixa residência.
Orienta a secagem do bacalhau e a preparação dos navios para as campanhas de pesca.
Em 1973 embarca no lugre com motor Creoula na última campanha deste navio à pesca do bacalhau.
Em 1976 assume o comando do navio Neptuno efectuando a sua última viagem em 1989, fixando residência na sua terra natal – Ílhavo.
Sempre ligado às «coisas do mar» começa a «trabalhar» no Museu Marítimo de Ílhavo onde desenvolve vasto trabalho de recolha, recuperação e catalogação do seu vasto arquivo integrado nos Amigos do Museu, e como Director do Museu de 1999 a 2002.
Em 1996 escreve, em parceria com Ana Maria Lopes, o livro Faina Maior a pesca do bacalhau nos mares da Terra Nova, (edição esgotada), colabora no filme «A Glória desta Faina», sendo convidado para vários programas de televisão e para colóquios em escolas, instituições privadas e entrevistas em jornais e estações e rádio.

Creoula
Em 1998 embarca mais uma vez no Creoula com destino a Stº Jonhn’s mas, desta vez como Director de Treino dos jovens canadianos e portugueses integrados no projecto «De novo na Terra Nova» organizado pelos Amigos do Museu de Ílhavo e Câmara Municipal com o apoio dos Estados Português e Canadiano e de diversas entidades públicas e privadas dos dois países. Em Outubro de 2001 é um dos oradores convidados no Colóquio Internacional da História da Pesca do Bacalhau, que decorreu no Museu Marítimo de Ílhavo, tendo apresentado um trabalho denominado «Creoula - A pesca do bacalhau no crepúsculo da navegação à vela», o qual foi transcrito na revista Oceanos, no livro de Álvaro Garrido «A pesca do bacalhau» e editado pela Confraria Gastronómica do Bacalhau em 2002.
Homem de uma dedicação extrema a tudo que esteja relacionado com a pesca do bacalhau e às histórias dos navios e gentes do mar, Francisco Marques fez do Museu a sua segunda casa na realização de um sonho que foi a reconstrução do Museu sendo o responsável pela construção da «Sala Faina Maior», hoje com o seu nome sendo o principal obreiro da réplica do lugre existente naquela sala.
Francisco Marques foi em 2002 entronizado como Confrade de Honra da Confraria Gastronómica do Bacalhau tendo em 2003 sido convidado para integrar aquela instituição onde desenvolveu um trabalho pedagógico não só com as suas histórias sempre narradas com a vivacidade de quem as viveu intensamente, como ensinando o que foi a pesca do bacalhau no tempo em que se pescava à linha ou ainda dando «aulas práticas» a bordo do navio museu Santo André, no escalar ou como se salgava o bacalhau.
Como um dos responsáveis dos Amigos do Museu de Ílhavo desenvolveu várias iniciativas em especial no melhoramento expositivo da Sala Cap. Francisco Marques com a aplicação de peças no «seu navio» ou no estaleiro dos dóris tarefa que desenvolvia na «carpintaria» cedida nas instalações da firma Pascoal. Em 2005, apresentou, no VI Capitulo da Confraria Gastronómica do Bacalhau, uma brochura intitulada «Sabores do Bacalhau-Memórias».
As cerimónias fúnebres do «Capitão», terão lugar, hoje, pelas 16.30 horas, na Casa Mortuária da Igreja Matriz de Ílhavo, seguindo para o cemitério de Ílhavo, pelas 17 horas.

Carlos Duarte
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