sábado, dezembro 20, 2008

Estória Tragico Marítima

A pedidos vários, em baixo a reedição da tragédia da cabra:

Era o dia 27 de Maio do ano da graça de 2006.
A armada da Avela participava nas operações de busca e salvamento do veleiro luso gaulês que tentara arribar à barra de Aveiro mas que, sem vento, abatia perigosamente sobre os areais da Vagueira, sem vislumbrar as almejadas terras de Espanha, areias de Portugal.
Do seu barquinho atracado na Lota Velha, o Capitão Albuquerque Machadinho olhava ansioso para o monitor do seu radarzinho, orientando a armada nas operações de Busca e Salvamento em curso.
Terminadas a bom termo as operações, foi o nosso Capitão ao porão do Bruminha buscar o que restava dos dois biscoitos salgados da ultima viagem e dois tonéis de vinho de torna viagem que estavam, diga-se, de estalo.
Eis que aparece no cais o Capitão Licas Corte Real que, fazendo companhia nos dois biscoitos e nos dez tonéis ao Capitão Albuquerque Machadinho, apanham duas cabras de monumental tamanho, só comparáveis em dimensão à estatua da Liberdade ou ao Empire State Building, no mínimo.
Decide então o Capitão Machadinho rumar a Saint Jacint sur Mer, rondavam as 2300, não sem antes me ter ligado por telemóvel, tentando convencer-me a acompanhá-lo, o que não fiz apenas por àquela hora já me encontrar a xoinar com todos os serrotes e violoncelos.
A questão foi que ao desencostar o Bruminha, o Capitão Albuquerque Machadinho, segurando com uma mão o cabo de amarração da embarcação e com a outra a corda de prender a cabrinha, situação de equilíbrio manifestamente instável, não resistiu ao desequilíbrio e malhou com todos os costados nas aguas da Ria, com o Bruminha a afastar-se, levando-o a reboque.
Aqui deu-se um comovente episódio, de que chamo a vossa atenção.
Ia o Capitão Albuquerque Machadinho e a cabra a reboque do Bruminha nas escuras aguas da Ria, eram 2300, máquina engatada, pon pon pon, esteiro adentro.
Não conseguindo subir a bordo sem soltar a cabra, esta, querida, que não sabia nadar, sacrificou-se para o salvar.

Libertando a corda que prendia a cabra, usou-a o Capitão donatário para subir a bordo, salvando-se das aguas escuras de breu.
A cabra, essa, não sabendo nadar e sem a corda que a segurava à vida e ao Capitão Albuquerque Machadinho, afogou-se irremediavelmente na imensidão daquelas aguas.

Esta história do comovente sacrifício de uma cabra para salvar o seu Capitão, figura já ao lado das histórias dos Sepulvedas na Trágico-Maritima Portuguesa.

3 Comments:

Blogger David Homem said...

Olá João!! Bom Ano!

:-) Tenho a impressão que o capitão Machadinho, ao navegar para Saint Jacint sur Mer ainda olha para trás.
Não vá a descomunal cabra reaparecer em forma de espirito...

11:47 da tarde  
Blogger David Homem said...

Olá João!! Bom Ano!

:-) Tenho a impressão que o capitão Machadinho, ao navegar para Saint Jacint sur Mer ainda olha para trás.
Não vá a descomunal cabra reaparecer em forma de espirito...

11:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ora aqui está na primeira pessoa a história mais engraçada desta coisa dos blogues (a seguir à dos outros, do rio, que ficaram sem gasóleo em barca alheia numa barra lá para o norte) que tive o previlégio de ler! Pela boca do João também tem graça mas assim bate o relato aos pontos... :)

Para quando uma visita do pessoal de Aveiro aqui à água doce? Barcos por cá não faltam e das patuscadas rezam lendas. Fica o espevitado convite de quem, não as conhecendo,vê nas personagens destes seus relatos muitas semelhanças com a malta cá dos confins.

Um abraço e bons ventos!

Pedro Cabral

7:33 da tarde  

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