sexta-feira, setembro 29, 2006

Pois é....

Do meu Amigo Zé Angelo recebi, há dias, o seguinte link, a que na altura pouca atenção dei, o trabalho apertava.
Hoje vi-o com mais atenção e, se tiverem tempo e curiosidade, vão lá.
É por estas coisas, dificilmente explicáveis, que o chamamento do azul é como o canto das sereias.
Pois é....
http://www.petitdelire.com/

segunda-feira, setembro 25, 2006

O Regresso (parte 5)

A minha entrada em Sines foi tranquilizante.
A viagem desde a Baleeira foi com dois dias fundeado à espera que a Nortada abrandasse, sobrolho aberto e sangrante, doze a quinze milhas de Mar alterado, cavado a grosso, ventos de Norte de força 7 e, sobretudo, três dias sem tomar banho.
Sines apareceu-me bem na amura de estibordo pelas 2200, já noite cerrada, e com contacto via rádio com os Homens da Marina para marcar um lugarzinho onde pudesse passar a noite e tomar um daqueles banhos.
Quando me fui deitar, na cabine da proa, estava tudo encharcado, muita agua tinha entrado pelo alboi e tudo estava molhado às entranhas.
Dormi no salão, descansando o que tinha de descansar.
No dia seguinte, segunda 28, mudei o Veronique para outro pontão, estava no do reabastecimento, e pus a secar os sacos-cama e demais ‘ palamenta ’ que estava na cabine alagada.
Depois de um almoço apenas simpático em Sines, largámos pelas 1430 com rumo a Sesimbra, com Mar de 1 a 2 metros e um vento de NW fraquito.
Teria sido uma viagem sem história se, a menos de 10 milhas de Sesimbra, não se tivesse levantado uma Nortada rija que me obrigou a fazer um ror de bordos até entrar no Porto de Sesimbra.

O filtro do gasóleo estava ainda muito colmatado dos baldões de São Vicente e a máquina não conseguia passar das 1600 rpm, pelo que os bordos eram mesmo necessários, a viagem era à vela, com uma pequena ajuda da máquina.
O Vento era mesmo de frente, a noite entretanto tinha caído, a visibilidade não era famosa, mas finalmente o Veronique entrou em Sesimbra, pelas 2300, isto é, 4 horas após nos faltarem apenas 10 milhas para o fim da viagem.

sexta-feira, setembro 22, 2006

O pontão de Olhão

A minha passagem pela marina/porto de recreio de Olhão foi objecto de umas considerações num post anterior.
Passei por lá em Agosto passado, a marina/porto de recreio tinha uns bons 500 lugares, dos quais metade estavam livres.
A água e a electricidades estavam desligadas e a porta de entrada para os pontões estava escancarada por estar avariada.
O cheiro a esgoto era intenso, devia existir alguma descarga por perto.
Atraquei num dos lugares livres e procurei a recepção ou alguém responsável, a minha intenção era sómente passar ali a noite e sair logo de manhã, eram cerca das 1500.
Apareceram dois solícitos funcionários do IPTM que me obrigaram a sair imediatamente.
De nada valeu dizer que sairia logo de manhã, que pagaria, como é lógico, o que me pedissem, nada demoveu o zeloso IPTM.
À argumentação de que o lugar que ocupava tinha dono, respondi que me indicassem então outro e que, se o dono aparecesse, eu sairia imediatamente. Nada demoveu o zeloso IPTM.
Devo dizer que os funcionários lamentavam, aparentemente, o que estava a acontecer, e que, à minha frente, ainda telefonaram para uma doutora qualquer que mandava naquilo, mas a resposta foi firme, o Veronique tinha de sair e já.
Linda resposta, tanto mais que outros veleiros, estrangeiros, nas mesmas circunstancias, por lá foram ficando.


Soube agora que uns amigos que lá tem um lugar para um veleiro, tendo o encalhado para manutenção, ocuparam o lugar com um pequeno barco, também deles. O zeloso IPTM escreveu-lhes a pedir mais dinheiro, pois o barco que ocupava o lugar não era o mesmo que estava inscrito na marina/porto de recreio.

Lindo e justo este critério tipicamente politicó-corruptó-autarquicó-xulo. Triste País este de marinheiros, dizem, que têm gente desta a mandar num instituto que gere as coisas do Mar. Será que essa gentalha sabe onde é o Mar, alguma vez o viram??????

Que diferença para o pontão da Avela, este feito com o dinheiro dos sócios e não como o do IPTM de Olhão, que o fizeram com o dos Portugueses.

NUNCA um veleiro ficou sem lugar no nosso pontão, sem todo o apoio que precisasse, sem a nossa companhia, sem as nossas caldeiradas, OFERECIDAS, sem os nossos presentes e recordações. Leiam, senhores do IPTM o que a Bateaux, a Voile et Voiliers e a Macmillan Reeds dizem a respeito de Aveiro e da Avela.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Ventosga

Em meados de Agosto, como é sabido dos meus Amigos, decidi fechar o Ventosga. Fui apagando os posts, dois anos deles, e o Ventosga foi, depois disso, alimentado pela "Paixão pelo Mar".
Depois foi 'deletado'.
Ao deletar o Ventosga o seu endereço ficou livre e um engraçadinho andou a publicar porno fotos naquele endereço.
Hoje dei conta que estava de novo livre e, antes que fosse tarde, re ocupei-o, para evitar usos abusivos do Ventosga.
Decidi agora re edita-lo, na forma de foto blog, só com fotografias e em parceria, mantendo este vosso Mar Adentro, ao estilo do Ventosga antigo.
Espero que gostem, de ambos.
Um Abraço,

João Madail Veiga, er

Dieter & Astrid




A rapaziada da Avela, ao contrário do IPTM de Olhão, nunca deixa de receber o melhor que pode os seus visitantes.
Foi também o caso deste casal alemão, a viver, quando está em terra, em Porto Santo, que regularmente nos envia as suas cartas e fotos para nos deixar a verdinvejar.
Este foi o seu ultimo email para o nosso Amigo Machadinho:

"....
Caros amigos,
Há já muito tempo que não chegou alguma noticía de vocês. Sentimos saudades e por isso queremos mandar uma mensagem.Como foi o verão em Aveiro? Tomaram alguns copos com amigos na sua quintal? Esperamos que vocês, a Licínia e o Antonio, sejam da boa saúde.
Por favor, mandem cumprimentos e um abraço grande aos nossos amigos Delmina e Amando.
Nós ficámos há 3 semanas na região da Ilha Grande uns 80 miles oeste do Rio de Janeiro. E um dos mais lindos paraisos no litoral brasileiro- enseadas inúmeras, águas abrigas, montanhas até mais do que 1000m de altura, todas cobertas com mata, e gente bem alegre.
Hoje á tarde voltamos ao Angra dos Reis, o centro da região, fazendo compras para as próximas semanas. Antes de nossa estadia no região da Ilha Grande passámos umas 3 semanas no Rio, é uma cidade tão encantada e interessante. No anexo mando algumas fotos do nosso tempo aquí no Brasil. Mais uma palavra sobre Brasil: É um pais encantado, mas como homem com paixao para a língua portugesa a lingua brasileira aparecesse por vocé um desastre.
Tem, acordo da lingua inglesa dos Estados Unidos, várias reduções, o modo conjuntivo quase não há. Nós, com o nosso conhecimento modesto da língua portugesa já sentimos a diferencia; temos que trabalhar muito para melhorar a língua de Portugal depois da volta á ilha Porto Santo.
A continuação da viagem está projetada na maneira que quisermos caminhar na primavera do sul mais para sul até Argentina ou Uruguay.
Lá quisermos pôr o barco em seco para voltar á nossa ilha. Devia ser á volta de april do próximo ano para passar o verão no Porto Santo.
Esperamos que nós encontrarmos outra vez.
Ate la todos bons e um abraço grande de
Dieter e Astrid
..."

terça-feira, setembro 19, 2006

O Reino da Estupidez

Como o meu Amigo Hortas Bolha me tenha desafiado a contar algumas histórias da terra dele, aqui vai a primeira:

"Reino da Estupidez" era o nome de um opúsculo anónimo que circulou em Portugal nos fins do século XVIII, nos tempos que ficaram conhecidos como da “viradeira”.
Sobre ele escreveu o matemático historiador Luís Albuquerque, meu merdoso professor das Análises e saudoso vizinho da Praia da Barra.
E qual era a capital do Reino da Estupidez???? Adivinharam, era coimbra.

O que a seguir descrevo não tem nada a ver com o opúsculo, mas enquadra-se no espírito da capital da cóltura e é das mais tristes histórias que se passaram neste nosso Portugal.
A primeira vez que dela ouvi falar foi à Dª América, minha segunda senhoria de quartos em coimbra. Tinha o vivido e presenciado.
A segunda foi quando fizeram 50 anos dos acontecimentos da Praça da Republica, na revista História, que reproduziu jornais da época. Depois disso, muitas outras pessoas me contaram os pormenores da história.
E aconteceu assim:
Nas festas da cidade, nos anos quarenta, os bombeiros locais decidiram mostrar a sua competência apagando um incêndio dificil à vista do Povo e das autoridades. Para tanto edificaram um pavilhão em madeira, na Praça da Republica, que regaram com líquidos inflamáveis, para tornar a acção ainda mais difícil.
Para a tornar tudo o mais real possível, no ultimo andar do dito pavilhão colocaram os meninos da escola Elísio de Moura.
A assistir as forças vivas da capital da cóltura, o presidente da câmara, o regedor, o bispo, o governador civil, enfim todos, em palanques e bancadas estrategicamente colocadas, para todos poderem assistir à demonstração de competência e eficácia dos bombeiros.
E, claro, aconteceu o que tinha de acontecer. O pavilhão ardeu todo e os meninos morreram todos queimados.

Bem, escapou um que se atirou das alturas e ficou paraplégico para a vida.
Podem visitar os seus túmulos no talhão dos queimadinhos, no cemitério da Conchada, em coimbra.
Comentários para quê? Foi uma das muitas demonstrações de ciência e sapiência com que coimbra brindou o país.

ZURK


Licas

Do nosso Amigo Mario Cruz, Licas, grande comandante do Zurk e companheiro de lides na Ria e no Mar, recebemos o email que a seguir transcrevo:
"...
My dear Friends
I enjoyed so much my hollidays and I had too much fun that I realy need now to relax at home a little !!! Here I am ,waiting for your visit for to have the opportunity to show you my nice Town -AVEIRO - and the lagune !!!!! One secret: I only eat the best natural food and the Top Top Wines !!!! Follow me !!!! Don´t forget: the life is so short that is an obligation to enjoy it !!!!!
BOM ANO !!!
Mario Cruz
...."
Como está em estrangeiro e nem todas as pessoas entendem, segue a versão em português:
"...
Cambada,
Gozei tanto que nem um perdido nas férias que agora tenho de ir descansar para o emprego.
Estou à vossa espera em Aveiro, a cidade mais linda do universo, e no meu barco, onde, à semelhança do Veronique, se come e bebe do melhor.
Não se esqueçam, cambada, a vida são dois dias e o carnaval são três.
(aliás fui recentemente convidado para organizar o carnaval do Rio de Janeiro de 2007 - Não acreditam???? nem eu !!!)


Um bom ano cambada.

Mario Cruz
,,,"

segunda-feira, setembro 18, 2006

O Regresso (parte 4)

Chegado a Alcântara, as previsões meteorológicas eram desanimadoras para os dias a seguir, pelo que, como já disse, me metia no alfa e vim descansar uns dias a casa.
Depois de trocado o filtro de combustível, que atrasou o dia da nossa largada, convidei o meu Amigo Pargana ( ílustre médico de bordo do Veronique, que comigo tantas milhas fez na Biscaia, e protagonizou a famosa história do castelhano doente que pedia “…un miédico, un miédico…’ na Plaza Mayor da Corunha) para a viagem de regresso final
E lá fomos, no alfa também, ainda lhe devo o bilhete, para a capital do Império.
Depois de um bife manhoso malhado a custo no Oriente e de um táxi que me ensinou o caminho para Alcântara por tráz do Cais do Sodré, lá chegamos ao Veronique, que, sossegadinho, aguardava pela nossa companhia.
A noite estava magnífica, um ventinho de Norte ajudava a progressão no rio, pelo que levávamos a vela grande toda em cima, sem receios.
A ideia de parar em Cascais ficou pelo caminho pois, como a Mar estava bonançoso, decidimos navegar de noite até à Nazaré e assim ganhar algum tempo para descansar na noite seguinte.
Passamos o farol de Santa Marta sem vento. Ao través do Farol da Guia o vento refrescou um pouco, mas nada de especial. Eram cerca das 0000.
Duas milhas depois da Guia o vento foi aos 30 nós e o Mar cresceu muito.
Não tivemos vontade de passar a noite a levar porrada e demos meia volta, regressando ao abrigo da baía de Cascais, onde fundeamos para passar a noite.
Às 0700 alvoramos e suspendemos, vela grande no 3º rizo e aí vamos nós, sem vento.
Ao nosso lado, um Supermaramu inglês seguia, a toda a máquina, sem velas, provavelmente não compreendendo porque motivo nós íamos ali, sem vento e com a vela grande no 3º rizo.
O filme repetiu-se de manhã. Santa Marta sem vento, Guia a refrescar, duas milhas depois da Guia vento nos trinta e muitos e Mar de 3 a 4 metros. Lindo.
Navegámos então para fora, outra vez nos 300ºv, cerca de 8 milhas.
Os ingleses do Maramu, que entretanto tinham levantado algum pano, seguiram juntinho ao Cabo da Roca, pouco depois faziam meia volta e regressavam a Cascais.
Da nossa parte lá íamos seguindo, com dificuldade, mas sempre em frente.
Um veleiro vinha na nossa esteira, a alcançar-nos. Vimos, quando se chegou mais perto, que era o Taraoa, com o Madaleno e o Varela, do nosso clube. Dali até Aveiro navegámos juntos, ou quase.
Eram 2200 quando chegámos à Nazaré. Fizemos um jantarinho simpático no Restaurante da Marina e ainda fomos visitados pelo nosso Amigo Aníbal Marques que por ali apareceu.
No dia seguinte largamos às 0800, com forte nevoeiro. E com ele seguimos até Aveiro, com uma visibilidade de pouco mais de 50 metros.
A penetração na Ria foi feita pelos instrumentos e com a ajuda do radar do Taraoa que ficou na Meia Laranja à nossa espera.
Não se abriu a garrafita de champain porque o médico de bordo deixou de beber. Uma lástima.

Senhora dos Navegantes






Não se movendo pela religiosidade, de que não tem nem gota, mas pelo prazer de participar numa actividade da Ria, o Veronique participou pela 2ª vez na procissão da senhora dos Navegantes.
O aparato era magnifico, dezenas largas de embarcações de todos os tipos e portes seguiam pelo canal dos Bacalhoeiros, e nós lá íamos na molhada.
O Wooloomooloo, que me tinha desinquietado para a participação, lá ia na molhada também.

sexta-feira, setembro 15, 2006

A Capital da Cóltura
















Ao estilo do Ventosga, também aqui vou incorrer, de quando em vez, em áreas terreiras, ao correr do pensamento e das teclas.
Pois hoje fui a coimbra tratar de assuntos profissionais, ao iapmei (...porquê coimbra?!, Aveiro não tem competencias para tal?!, tendo mesmo muitissimo mais empresas que a capital da cóltura?!!!)
Mas fui.
Almocei num tasco onde muitas vezes estudei nos idos, um palafito sobre o mondego, onde pude observar as obras da marina oceânica do choupalinho, já destinado o comodorato ao nosso arrais de gaivotas Hortas, o Bolha para os amigos.
O mondego estava alterado, com vagas de 12,....., 13 cm vá, e um vento fresco de 9,25 nós.
Saído do restaurante onde, justiça seja feita, o tiramissu foi dos melhores que já malhei, o dito pichado no muro que reproduzo, sobre os atelantes, que, como toda a gente sabe, são os habitantes da Atelântida.

PS1: as minusculas não são erro nem gralha, são propositadas.
PS2: Dizia o coimbrão Namora que a universidade era o local onde gerações de estupidez estratificada glorificavam a nossa ignorância. E disse.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O estai de tempo


Estai de Tempo

Já andava nas locas do Veronique desde os tempos do sr Georg Poeftscher e nunca antes, felizmente, o tinha envergado.
Envergonhado, cabia dentro de um pequeno saco de lona, numa loca de estibordo, por trás da casa de banho do mais gracioso veleiro do Universo
Em Lagos resolvi usá-lo, e em boa hora o fiz.
Depois afeiçoei-me a ele e acompanhou-me até à barra de Aveiro.
Mesmo com ventos mais ligeiros permite um angulo de bolina mais apertado e equilibra a embarcação.
Também fiquei cliente.

quarta-feira, setembro 13, 2006

O Regresso (parte 3)

Larguei de Sesimbra terça feira pelas 1000, depois de ter substituído o pré filtro de combustível, completamente sujo do lixo que os baldões de São Vicente fizeram levantar do depósito do Veronique.
O vento era Norte, para variar, mas bonançoso.
Foi uma velejada desde que saí do Porto de Sesimbra até Alcântara, de muito luxo, vela grande e estaisinho de tempo à proa, ao qual me tinha afeiçoado desde Lagos.
Com um través até ao Cabo Espichel, acompanhando os alcantis e enseadas da serra e uns 5 nósitos de velocidade ao fundo.
No Cabo, para variar, o Mar cresceu, mas nada que se comparasse com São Vicente. Segui mais 3 milhas para fora, outra vez nos 300ºv, agora já nos 6 nós ao fundo.
Bordo para o Meco e almoço de fruta a bordo, bordo para Cascais.
No enfiamento da Barra Sul, bordo para São Julião da Barra. Pouco depois encontrava a bóia verde a Sul que limita o porto da capital, eram 1600 do dia 29 de Agosto do ano da graça de 2006.

Nunca antes tinha velejado no Tejo, é um rio manhoso este.
O vento no rio era irregular como nunca tinha visto, com rajadas de 35 nós e vazios de 5 a 10. Orcei o Veronique muita vez, sempre que o verdugo beijava as aguas do Tejo.
Passou por mim um “local” rizado e percebi os ditos do meu Amigo Zé Ângelo sobre a forma de marear os barcos no Tejo, é mesmo como ele diz.
Mesmo mais para montante o regime do vento não se alterou, continuava de rajadas e vazios.
Cheguei a Alcântara pelas 1720, onde liguei finalmente a máquina do Veronique.

A atracação foi complicada, o vento dentro da doca do espanhol era forte e, como em toda a viagem, irregular. Mas lá ficou e, como a meteorologia para os próximos dias era manhosa, meti-me no alfa e vim descansar uns dias à minha Aveiro, que já não via há uma semana e picos e da qual já tinha as minhas saudades.

terça-feira, setembro 12, 2006

O Regresso (Parte 2)


Na verdade a sensação única de isolamento no Mar paga largamente a ‘comodidade’ da companhia e da partilha das tarefas a bordo. Fiquei cliente e, neste tipo de viagens, pretendo repetir a opção.
Temos tempo para tudo, na verdade ele não conta, não conta para os quartos, para os pontos, para as velas, para nada. Tudo depende de nós. É bom. É um luxo.

Regressado do Cabo de São Vicente e reparada a avaria no guincho e no sobrolho, fundeei na baía da Ponta de Sagres, onde na altura já estavam outros 4 veleiros, um dos quais o alemão Dolcibella do post do Casvic.
O vento continuava forte pelo que a manobra de fundear foi complicada. Acabei por vir à garra 3 vezes, duas delas na noite que se seguiu.
Estive fundeado nessa baía nesse dia e todo o outro, o sábado.
O vento não amainava e estar ali sexta e sábado todo o dia já era demais.
Um veleiro ao nosso lado, também a aguardar que o vento caísse, propôs-me sair domingo às 0500. Claro que concordei logo e comecei a aparelhar o Veronique para atacar o São Vicente pela manhãzinha de domingo.
Às 0500 de domingo o vento continuava forte. Aguardámos até às 0800.
Saímos então 3 veleiros, pelas 0800, velas no 3º rizo, rumo a São Vicente.
O vento carregava com força. Rápidamente chegou aos 35 e aos 40 nós, norte puro. A velinha continuava cheia, o que era bom, segurava o barco.


O Mar, tocado ao vento, cresceu aos 5 metros, Norte. Navegámos as 3 embarcações para fora, nos 300ºv, umas 6 a 8 milhas. Lindo, umas boas chapadas de água salgada nas fuças, uns baldões valentes e umas dezenas largas de golfinhos a acompanharem o Veronique e a transmitirem-me uma calma inexplicável e doce.
Virei de bordo pelas 8 milhas de São Vicente, finalmente rumo a Sines.
À medida que me afastava de São Vicente o Mar e o Vento foram caindo, tornando o resto da viagem agradável, permitindo mesmo uma refeição quente.
Pelas 2200 entrava em Sines e atracava no pontão de reabastecimento, cansado mas impante.

O Regresso (parte 1)

Larguei de Vila Moura com destino à Baleeira bem cedo, a ideia era chegar lá, fundear, passar a noite e começar a subir a costa vicentina no dia seguinte de manhã, para evitar as nortadas próprias da zona e da época.
Depois de Portimão o vento começou a refrescar. Cada milha a Barlavento o Norte carregava mais, de tal forma que tive de arribar a Lagos.
Não foi tempo perdido, conheci a famosa ‘Taberna da Marina’, o seu bacalhau, as suas saladas, as suas filas e o seu ambiente.
No dia seguinte a seguir ao almoço fiz-me de novo ao Mar, novamente com destino à Baleeira, primeiro com uma velejada de muito luxo, vela grande no 2º rizo e estai de tempo, a estrear, à proa.
Mais uma vez, cada milha que me aproximava de Sagres, mais o Norte carregava. Cheguei à Baleeira já com 20 nósitos de vento.
Fundeei e passei a noite, não descansado, pois com o vento cada vez a carregar mais, tive receio de vir à garra, o que felizmente não aconteceu, desta vez.
0700 suspendi e dirigi-me ao Cabo de São Vicente. O vento era, aquela hora, 25 nós Norte puro.
No acto de suspender, e com todos os cuidados, o cadeado do ferro ficou preso entre o guincho e o casco, o que na altura não me preocupou porque a ideia era que a próxima paragem fosse Sines, atracado, e lá poderia fazer a reparação.
Mal saído para fora do cabo de São Vicente o vento soprava rijo de 30 nós. O Mar, tocado a vento, subia aos 3 metros e mais. Ná, para apanhar porrada apanho em casa, não preciso de ir para o Mar à procura dela. Regressei.
Quando fiquei ao abrigo da Ponta de Sagres liguei o piloto e fui desembaraçar o cadeado do ferro. A operação é simples, mas chata.
Já estava a apertar as porcas do guincho quando o ferro se soltou e foi até ao fundo.
A manivela do guincho rodopiava furiosa e eu ao tentar parar tudo, apanhei com força com ela nos braços primeiro, e depois, soltando-se, atingiu-me com força o sobrolho direito, fazendo-me sangrar com abundância. Um luxo.
E eis-me, sem querer, fundeado em frente ao promontório de Sagres, com uma toalha vermelha de sangue na cabeça, sangue nas velas convés e guincho, a tentar por ordem naquela barafunda toda, sozinho a bordo.
Confesso aqui que nunca me arrependi de estar sozinho, e até gostei da situação.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Na Culatra

Em Olhão não gostaram de nós, de mim e do Veronique . Lembrei-me do Conde de Lippe e do Regulamento de Disciplina Militar que rezava que ‘…para corneteiros deveriam ser escolhidos ciganos, algarvios ou outros de mau porte…’ para compreender o zelo do IPTM em não me permitir atracar numa marina/porto de recreio, meio vazio, por uma simples noite, mesmo comigo a pagar a falta de agua e electricidade e a cheirar os odores dos esgotos ali perto.
Mas há algarvios e ciganos porreiros (por acaso agora não me estou a lembrar de nenhum, mas de certeza que os há).
Estar fundeado na Culatra é mágico. Ainda me cruzei com o tri-maran do Andrew, sim, o da história do Veronique, larguei o ferro perto de terra e cacholei na Ria Formosa umas quantas e deliciosas vezes.
Subir para o Veronique não foi fácil, as escadas são manhosas, tenho de lhe arranjar outras. Foi um acto sublime de acrobacia, mas lá subi.
O jantar foi frugal mas suculento, cozinhado a bordo com frescos comprados num mini mercado escondido atrás do picadeiro de Vila Moura.



Culatra

Barra de Santa Maria


Barra de Sta Maria

Tinha acabado de chegar a Vila Moura e já não gostava. Tinha por lá passado num longínquo Inverno, a bordo de um Sun Odissey de 42 pés, com o Augusto Pereira, e não passamos então do pontão de recepção.
Desta vez cheguei sozinho com o Veronique, pelas 1600, vindo de Portimão, no que foi a minha primeira largada a solo no Mar.
A Marina das tias era um charco com barcos lá dentro e a rapaziada a fazer picadeiro à nossa volta. Valia uma lojinha da Hagen Dass com gelados muita bons, e carotes também.
Como se impunha, logo no dia seguinte larguei para o Mar, rumo à Barra de Santa Maria.
Avisado das correntes fortes daquela barra, planeei a viagem por forma a entrar na enchente, perto do estofo.
Pelo caminho ainda deu para notar um aviso de tempestade do Navtex espanhol, no golfo de Cádis, da qual apenas senti um ligeiro refrescar dos ventos.
Muitas traineiras a largar redes à beirinha da praia, mau, mas que serviram para conhecer melhor a costa e saber até onde me poderia aproximar de terra.
Cuidado com a restinga a poente da barra, uma milha para fora, e lá vou eu, à leão, barra adentro.
Canal até Olhão a lembrar a minha Ria, com bóias bem distribuídas e visíveis, uma marina manhosa, com as aguas e electricidades desligadas, mal cheirosa também, mais de metade dos lugares vagos, e dois extremosos funcionários a correrem comigo mal atraquei, sob o pretexto adjectivo de que se tratava de ‘… um porto de recreio e não de uma marina, até tinham os DLs e tudo…’
De nada serviram os meus argumentos, os mais fortes dos quais eram que só queria passar a noite, que saía de imediato se o ‘dono’ do lugar se apresentasse, e que pagaria o que me exigissem.
Nada demoveu os zelosos funcionários.
(saudades do pontão da Avela, feito não com dinheiros públicos como aquele, mas com o dos sócios, e que NUNCA ninguém que ali se apresentou ficou sem lugar, sem as caldeiradas da praxe e sem o apoio total da AVELA)
Lá saí eu, canal de Olhão agora ao contrário, para fundear na Culatra e ainda mandar umas cacholadas na Ria Formosa.
Dia seguinte a Preia Mar era às 0915. Suspendi às 0830 em direcção à barra. Ainda toquei no fundo, mas rapidamente me safei e, à hora aprazada, saía para o Mar outra vez, deixando atrás de mim a Ria Formosa e os ‘zelosos’ funcionários do 'zeloso' IPTM.
Ainda me cruzei com a traineira da foto, e o Mar, finalmente, à minha frente.

Um luxo.

Com o 'preto' ao leme



Depois do Hortas Bolha e o Vitorino Madaleno me terem levado o Veronique até aos Algarves, fui eu buscá-lo e, desse modo, descobrir a magia das viagens a solitário. Contem os amigos com os relatos em posts a seguir.Aqui estou algures entre Lagos e a Baleeira, o 'preto' ao leme e um Sol de muito luxo. Seguir-se-iam os ventos manhosos do Cabo de São Vicente, mas isso já é outra históra.